No dia 19 de junho de 2025, aos 79 anos, faleceu Léon Ernest Krier, arquiteto, urbanista e pensador luxemburguês que se tornou, ao longo de sua trajetória, uma das maiores referências mundiais da arquitetura e do urbanismo tradicionais. Sua vida foi marcada por uma coragem rara: a de enfrentar o modernismo em seu auge e defender, com convicção e talento, a permanência da tradição como base para cidades mais belas e humanas.

Nascido em Luxemburgo, no ano de 1946, Krier era filho de um alfaiate especializado em vestes clericais. Sua formação em arquitetura aconteceu em Stuttgart, mas logo percebeu que sua visão não cabia nos moldes acadêmicos da época. Abandonou o curso após um ano e seguiu um caminho independente, encontrando no britânico James Stirling o primeiro impulso profissional ao ser contratado para trabalhar em seu escritório em Londres. Durante esse período, foi influenciado pelo pós-modernismo — estilo que mais tarde deixaria de lado para se dedicar ao classicismo.
Na década de 1970, Krier ergueu sua voz contra o modernismo, acusando-o como responsável pela criação de cidades desumanas. Seus manifestos, em forma de textos curtos acompanhados de caricaturas incisivas, espalharam-se como armas de resistência cultural. De crítico, tornou-se líder: foi a consciência e a bússola de todos aqueles que não aceitavam a destruição do patrimônio substituído por concreto e vidro.
Seu projeto mais emblemático é Poundbury, vila anexa a Dorchester, em Dorset, Inglaterra, iniciada nos anos 1990 a convite do então príncipe Charles. Ali, Krier colocou em prática sua visão de urbanismo: ruas caminháveis, mistura de usos, diversidade social e escala humana. O resultado tornou-se símbolo de um novo paradigma — uma cidade viva, com mais de 2.600 empregos, 250 empresas, 35% de habitações acessíveis e imóveis valorizados muito acima da média regional (1). Poundbury provou ao mundo que a tradição não era nostalgia, mas vanguarda.

Sua influência se espalhou além da Inglaterra. Cidades como Cayalá, na Guatemala, inspiraram-se diretamente em sua visão, demonstrando que seus princípios tinham alcance global. (2) Ao longo das décadas, Krier foi mentor de arquitetos, professores e urbanistas que hoje carregam adiante sua mensagem em instituições como o CNU (Congress for New Urbanismo), a Universidade de Notre Dame e o INTBAU (International Network for Traditional Architecture and Urbanism), onde seu pensamento continua a formar gerações.
Mais do que projetos, Krier deixou uma filosofia clara: cidades compactas, belas, integradas, onde a vida cotidiana se reconcilia com a dignidade da forma construída. Em tempos de crise ambiental e busca por modos de vida mais sustentáveis, sua obra mostra-se ainda mais atual e necessária. Krier foi o grande líder do movimento tradicional no mundo, referência intelectual para todos que acreditam que a arquitetura deve servir às pessoas, e seu legado seguirá moldando cidades, escolas e consciências muito além de seu tempo.
Em novembro de 2025, a Universidade de Notre Dame organizará um congresso internacional em homenagem a Léon Krier, reunindo aqueles que continuam sua obra. Com sua morte, encerra-se uma vida, mas permanece acesa a chama de um movimento que ele liderou como ninguém, do qual o IBAT (Instituto Brasileiro de Arquitetura Tradicional) é fruto.
Referências:
1. Duchy of Cornwall. Homes in Poundbury. Poundbury, 2025. Disponível em: https://poundbury.co.uk/live/homes/. Acesso em: 18 ago. 2025.
2. INBAR (Istituto Nazionale di Bioarchitettura). Addio a Léon Krier, Socio Onorario dell’INBAR e padre del New Urbanism. Bioarchitettura, 24 jun. 2025. Disponível em: https://www.bioarchitettura.it/notizie/addio-a-leon-krier-socio-onorario-dellinbar-e-padre-del-new-urbanism/. Acesso em: 18 ago. 2025.
Revisão: Camila Bernardino | Edição: Robertha Silveira